Polar triper adviser: o intrépido Luxemburgo
- Chegar ao Luxemburgo de comboio, vindo de Bruxelas, ainda é a melhor a opção. Especialmente para que o desmame da agitação seja feito de forma doseada.
- O Luxemburgo é um oásis de cidade no meio de um deserto de verde. Verde. Verde. Verde. Verde verdejante. E porquê tanto verde? Vide ponto seguinte, si vous plais,
- O clima no Luxemburgo foi classificado pela Moody's como A +++: certinho, previsível, infalível, cumpridor, rigoroso e pouco dado a caprichos ou devaneios. Pena é que se caracterize pela chuva. Chuva tola. Em Agosto, inclusivé. Céu enublado e chuva. Hora sim, hora não.
- Se decidirem cantar o famoso hit da Linda de Suza "Chuva, chuvinha" preparem-se para, de repente, ouvirem os transeuntes acompanhar-vos no ritmo. Primeiro junta-se um, depois outro e, quando dão por vós, têm um coro. É fácil, fácil fazer um flash mob com música popular portuguesa no Luxemburgo. É só começar a entoar os primeiros acordes.
- Não é à toa que a minha amiga diz que mora na sucursal de Portugal. Não é preciso ir a um restaurante chamado "o Transmontano" para ser atendido em português. Se não pescas nada de francês e desconhecias que o Luxemburguês era uma língua, não te apoquentes. Basta começar a "parlar" com dificuldade e logo se abeira um português (ou, na pior das hipóteses, um luso-descendente) vindo do nado para te ajudar. Aconteceu-me na Oberweis (a melhor cadeia de pastelarias do grão-ducado) onde a empregada era casada com um português e lá me arranjou "uma bica curtinha". E na Chocolate Company Bonn em frente ao Grand Ducal Palace, onde se bebem os melhores chocolates quentes da cidade. Sim, quentes. Sim, no Verão. Don't ask!
- Não estejam convencidos que vão gozar de uma vida nocturna fascinante e intrépida. Na zona baixa da cidade- no Grund- o Scott's é o melhor bar das redondezas. Embora eu esteja convencida que aquilo não é mesmo um bar a sério. Se por um lado não assisti a ninguém a fazer figuras tristes, nem vómitos, nem bêbedos a cair para o lado, nem turistas barulhentos (ok, as miúdas de mini-saia e cai-cai numa noite em que eu estava de casaco vestido e calças eram suspeitas mas, ainda assim, nem um risinho histérico fizeram); por outro, asseguro-vos que quando de lá saí, perto das três da manhã, a casa de banho das raparigas não só não tinha fila, como estava limpa e (surpresa!) tinha papel higiénico. O júri de Portugal atribui às "toiletes" do Luxembourg un point.
- Para animar as hostes atrevam-se a inventar, em cada sítio que abanquem- seja bar, café, pastelaria ou esplanada- que a vossa melhor amiga faz anos. É certo que vais começar a levar pisadelas da "aniversariante" depois da 43ª vez que ouvires cantar os parabéns pelas portugueses que descobres que cercam a vossa mesa. E palminhas por todos os lados. Mas, feitas as contas, compensa os bolinhos, bombons, macarrons, chocolates ou cerveja grátis que os empregados dos respectivos estabelecimentos oferecem à "bebé da mesa".
- Se, no entanto, alguém fizer mesmo anos, lembrem-se que as boas maneiras são universais. E especialmente apreciadas num país de rating A+++. Portanto, evitem dar barraca. E lembrem-se que no Luxemburgo o big brother is not only watching you: he is also listening you.
- Depois de jogarem bowling, ir ao Grund e assistirem a um fabuloso entardecer, regado a mojitos, com vista para a cidade no terraço do Sofitel, lembrem-se que no Luxemburgo há tempo. As lojas fecham às 18h e os supermercados maiores às 20h, pelo que, há tempo para a família e para se estar sem pressas nem correrias. Repesquem as vossas tradições, gozem o luxo dos minutos a passar devagar.
- Vianden é a cidade mais catita do Luxemburgo. Visitem o castelo e, com sorte, poderão chegar num dia de Feira Medieval. Um festival com pessoas vestidas a rigor e sem All Stars por debaixo dos brocados medievais, com músicas tocadas com instrumentos à antiga, sem barracas de churros, com o lixo deitado nos caixotes do lixo, flores às janelas e nos postes e sem carteiristas a aproveitarem-se da confusão. Ah, espera lá, se calhar é porque não há mesmo confusão. Imperdível.
- Ainda em Vianden não se pode dispensar uma volta no teleférico que sobe uma encosta escarpada. Certifiquem-se que não se armam em fortes nem arriscam em viajar no dito cujo sozinhos. É que o bicho é apenas seguro por um mísero ferrinho. Não se armem em tontas nem agarrem as vossas malas como se estivessem em pânico nem escancarem as pernas se estiverem de vestido. Caso contrário arriscam-se a ter que desembolsar 6 € pela fotografia exposta no final do percurso ascendente, para evitarem ouvir as gargalhadas de quem vos vê retratadas de perna aberta, descabeladas e com um ar de absoluto terror.
- As margaritas da cadeia de restaurantes mexicanos Chi Chi's batem as do "La Siesta" de Algés aos pontos. Restaurante mexicano no Luxemburgo? Pois sim, mon amours. Ainda bem que tínhamos connosco um muçulmano para servir de alibi e não podermos ir degustar o famoso porco luxemburguês. Rrrrrrrr.
- Aluguem um carro. Perdam-se no Vale dos 7 castelos e descubram cidades luxemburguesas catitas. Desçam pelas margens do rio Mosel e bebam um copo de vinho branco numa das adegas circundantes. Uma das vantagens deste pequeno e minúsculo grão ducado é estar a meia-hora de tudo: Metz em França, Trier na Alemanha e Arlon na Bélgica. Não levem GPS nem tracem rotas nem planos. Percam-se literalmente (e não se preocupem porque o preço do combustível é assustadoramente baixo).
- O Jardim das borboletas é um spot interessante. Não me lembro em que cidade fica mas estou certa que fica a menos de meia-hora do centro do Luxemburgo, caso contrário seria noutro país. Existem largas dezenas de espécies de borboletas coloridas e esvoaçantes numa estufa (dizem eles, que eu cá senti-me em casa) com um cenário mignon. Dá ouvidos aos teus amigos que não te querem acompanhar na visita quando dizem que as borboletas são só traças travestidas (não aches que é pirraça ou que têm borboletófobia). Acredita mesmo porque isso poupa-te o desgosto de veres as ditas cujas de asas fechadas, castanhas e feinhas que dói.
- Se sentires tédio compra o jornal "Contacto" e delicia-te com as notícias da comunidade portuguesa...
- A Schueberfour é a feira popular do Luxemburgo e acontece durante três semanas. Começa em Agosto e é bom para matarmos saudades dos carrocéis, carrinhos de choque, rodas gigantes e muitas e muitas barraquinhas de coisas calóricas para se comer. Evitem, mais uma vez, as coisas terminadas em wurst.
- As luxemburguesas não existem. Nem os luxemburgueses. É mito urbano. O Luxemburgo é país mais colonizado de sempre pelos portugueses. Sintam-se em casa.
- O Luxemburgo, como aliás qualquer outra cidade, visita-se melhor na companhia de alguém que lá viva. Atrevam-se a cravar hospedagem a amigos que emigraram para um país calmo, com um bom nível de vida, conforto e tempo. Muito tempo. E usufruam-no com eles. .Porque isso é o verdadeiro Luxo. Lux (emburgo).