Estar deitadinha no leito do amor e, de repente, o coração começar a bombar. A bombar milhões, literalmente. Uma espécie de arritmia no plural (juro que sentia o meu coração e o da baby bear). Ok, eu já tinha tido arritmia muitas vezes naquele leito do amor mas desta vez não estava a ter uma sessão de sexo louco e desenfreado. Bolas, será que me ia dar uma "trombose"? Qual AVC, qual quê? Estava a ter o princípio de uma trom-bo-se daquelas à antiga, era certo...
Enquanto mámen ligava para a linha Saúde24 (recomendo a toda a gente!) tinha em perspectiva as recomendações que tinha deixado à minha mãe, à Xana e à Catarina, no caso de eu quinar. Fiquei arrependida de não ter colocado as coisas por escrito, que a minha mãe e a Catarina são meio despistadas e a Xana teve duas gravidez no espaço de um ano e meio, o que deixa qualquer uma "avariadinha dos nervos".
Recapitulando: se mámen quiser voltar para os Açores, impedi-lo de levar para lá a minha filha; não deixar a mãe de mámen dar muitos palpites na educação da miúda nem furar-lhes as orelhas e espetar-lhe argolas de ouro à nascença, não deixar a minha mãe estragar a miúda com mimos nem ceder a comprar-lhe coisas da Hello Kitty, supervisionar que mámen arranje uma nova companheira rapidamente mas que a minha filha nunca a chame de "mãe", essa alminha ter que ser aprovada pelas minhas amigas e, especialmente, falarem sempre de mim à minha filha com uma aura de "diva", omitindo todos os meus podres e que são muitos. Ah, e garantir que, aconteça o que acontecer, a miúda nunca irá ler livros da Margarida Rebelo Pinto nem virá a ser adepta do Benfica!
Pronto, hipocondrias à parte, a verdade é que desde que soube que estava grávida que comecei a pensar na minha própria morte sob outra perspectiva. Agora não me dava jeito nenhum quinar, que vou ter uma filha para criar e estou feliz.
Portanto, depois de mámen ter sido aconselhado a levar-me às urgências, descobri o maravilhoso mundo das cadeiras reclináveis e do som reconfortante do CTG. A miúda estava bem, a mãe é que tinha a tensão um "bocadinho" alterada.
Em boa verdade, desde que soube que estava grávida fiz uma viagem a Nova Iorque, tive perda de sangue que se traduziu numa ameaça de aborto, trabalhei mais de 10 horas por dia durante semanas a fio, vomitei este Mundo e o outro, interrompi reuniões com clientes para vomitar mais, ministrei sessões infindas de coaching de equipas a empurrar a barriguita, tive duas infecções urinárias, entrevistei centenas de pessoas, fiz dois exames de rastreio genético que me deixaram ansiosa, fiz de guia turística para amigos emigrantes, engordei apenas 2 Kg e pouco, enfim, acho que só não fui dar beijinhos a todas as feiras e mercados municipais do país porque ainda não calhou ter-me candidatado a um cargo político. Ok, sou hiperactiva
, já que o outro se chibou ali em baixo, assumo-o aqui.
Na prática, entendi que a gravidez deveria acompanhar a minha vida normal em vez de perceber que a minha vida teria que se ajustar a uma gravidez. Erro crasso, não batam mais na ceguinha, já percebi!
A culpa é da minha família onde "a tua tia trabalhou até ao dia em que pariu a tua prima e ainda fez horas extra na fábrica porque estavam com um pico de trabalho" e " a tua bisavó pariu o teu avô no campo, enquanto debulhava milho, cortou o cordão umbilical com os dentes, embrulhou-o numa mantinha e quando o teu bisavô chegou a casa para almoçar já ela lá estava com o menino e o almoço na mesa!". Sou uma dondoca, é oficial!
Quando me diziam que as minhas prioridades iriam mudar, eu acenava com a cabeça e não ligava. Mas mudam, mesmo! Neste momento, a única coisa que quero é que a Ana nasça bem, forte e saudável. Feliz, de preferência. E, embora tenha sempre confiado no ADN (eu e mámen somos uns fixes mesmo!) sinto que tenho que contribuir. Que tenho que parar de viver a minha vida grávida e aproveitar para viver a minha gravidez vivida! Com tempo, calma, sol, sonos em dia, músculos relaxados e sorrisos. Sem compromissos, outlooks, mails de clientes, chamadas e telefones sempre a tocar e stress. O futuro, o negócio, a carreira são importantes, com certeza. Mas a minha filha e a minha família estão acima de tudo isso.
O futuro é a Ana, não as propostas, o CRM, as reuniões, a facturação. Se eu estiver feliz na minha vida pessoal, tudo o resto se ajustará. O contrário não se verifica e eu já experenciei isso.
Portanto, é hora de viver a minha gravidez e preparar a minha maternidade. Por mim, pelo mámen e pela família que a Ana irá cimentar.
Pela felicidade com que quero que ela nasça.
Porque, para ser honesta, "it's all about Ana".