Este post tem sido adiado sucessivamente. Primeiro, porque sei que vai gerar polémica, em segundo lugar porque as minhas hormonas já não são o que eram e corro o risco de ser gratuitamente mal-educada e, em terceiro, porque escrever sobre isto implica alguma pachorra e bom senso. Mas eis que chegou o dia.
Tema: amamentação.
Preparados? Eu não faço intenções de dar mama à minha filha. Pronto, já disse.
Poupem-se as pessoas que estão já de dedos no teclado a quererem-me esclarecer sobre a cartilha de benefícios da amamentação que eu já a conheço de cor: o poderoso factor imunológico do leite materno, a vinculação (discutível a meu ver e olhem que eu sou psicóloga e o pai da cria pedopsicólogo, tá?) afectiva que se cria nos momentos de amamentação, a portabilidade e acessibilidade das mamas no que diz respeito ao transporte do leite, a melhoria do desenvolvimento neuro-psicomotor infantil e cognitivo, o possível aumento do QI (ainda bem que a minha mãe não me amamentou senão imaginem a sobredotada incompreendida que eu seria?!), a promoção de um melhor padrão cardio-respiratório durante a alimentação, a diminuição mais rápida do volume do útero e consequente emagrecimento por parte da mãe, o menor risco de hemorragia no pós-parto e, claro, o factor anticoncepcional da coisa. Para não falar do factor economicista da coisa.
Pronto, agora que vos provei que conheço, de cor, as vantagens da amamentação vou repetir: não pretendo dar de mamar à Ana e é por opção. E só mudarei de ideias caso a obstetra me diga, peremptoriamente, que a vida da minha filha ficará comprometida se não o fizer. O que, até ver, não será o caso.
E, sim, poderia disfarçar e dizer que "não posso amamentar" e que tenho muito desgosto por isso. Que, assim que parir, terei que tomar um antibiótico fortíssimo para curar a puta da infecção que me persegue há meses e que, devido à gravidez, não posso tomar. E que não o poderia tomar também se estivesse a amamentar. E esse argumento até é verdadeiro.
Mas a verdade, a verdadinha, é que nunca fiz intenções de amamentar. Por inúmeras razões que vão desde as fúteis e estéticas às de comodismo. Às de egocentrismo e incapacidade de abnegação total. Às de necessidade de não anular o meu bem estar emocional em troca de leite directamente vindo da fonte para a minha filha. E, porque, fundamentalmente, é uma decisão passiva de ser uma escolha e há alternativas em que eu acredito. E escolho-as, conscientemente.
E, meus amigos, eu própria não fui alimentada a mama (secou o leite à minha mãe) e sobrevivi à prematuridade, a 1600 Kg de peso à nascença, a uma doença gravíssima, a uma cirurgia com 15 dias de idade no Hospital Pediátrico de Coimbra (salvé, Dr. Torrado da Silva!) porque na Estefânia se recusaram a operar-me e a uma meningite no pós-operatório. Tirando as sequelas que ficaram (ortopédicas e urológicas) eu sou aquela que nunca ficou constipada, nunca teve uma dor de ouvidos ou garganta. Sou a pessoa mais resistente que possam imaginar! Quanto ao QI? Epá, sempre fui uma excelente aluna, nunca chumbei a uma cadeira que fosse, quanto mais um ano? Sou perspicaz e espertíssima! Quanto à vinculação com a minha mãe? Esta dispensa explicações.
Resumindo: eu sou a prova provada que, embora o leite materno seja a situação ideal, o leite adaptado não compromete o desenvolvimento de uma criança e o seu sucesso enquanto adulta.
E, quanto mais a gravidez avança, mais certezas eu tenho quanto a este ponto: a Ana será alimentada a leite adaptado. Não dependerá de mim de duas em duas horas mas sim de ambos os pais. Porque, depois da gravidez, passamos a ser uma equipa. E criará uma relação igualmente vinculativa com ambos os progenitores e não uma privilegiada comigo. E, sabem que mais, para mim a parentalidade só assim faz sentido.
O plano é, fundamentalmente, eu poder aliviar os 9 meses de exaustão que estou a carregar nos ombros e não perpetuá-los com a amamentação. Poder dormir quando for a vez do pai dar o biberão. E serão vezes igualmente repartidas porque, nesta família, o bebé não será da mãe e ao pai não caberá apenas a tarefa de "ajudar". O plano é não correr o risco de stressar com possíveis dores, encaroçamentos e frustrações do bebé não "pegar" nas ditas cujas. Não ter que fazer algo que encaro como sacrifício e não como prazer. Ou, como escreveu alguém numa caixa de comentários mais abaixo: "mais vale um biberão com amor do que uma mama com sacrifício".
Não condeno as escolhas de nenhuma mãe. Por mim, tirem fotografias às barrigas cheias de estrias, tenham partos em casa, dispensem médicas e contratem doulas, comam placenta, tenham partos debaixo de água, façam cesariana por opção, dispensem epidurais, amamentem até à adolescência, usem leite materno para fazer bolos, coloquem as fotografias dos vossos filhos na Internet. Cada um sabe o que é melhor para si e o que eu valorizo não tem que ser o que os outros valorizam. Não temos que nos reger todos sob a mesma batuta. Importante é que as escolhas que cada um toma sirvam a cada um, que lhes proporcionem bem estar e felicidade. Portanto, quando alguém me perguntar porque não amamento a resposta é simples: "PORQUE NÃO QUERO!".
O que eu quero é usufruir, com a alegria que as escolha que faço (fazemos) me irão proporcionar, a maternidade. Neste caso, porque nas minhas mamas mando eu.
E eu é que decido.