Páginas

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Aos 9 de Janeiro de 2013, à Ana por ocasião dos seus 5 meses

Quando nasceste, há cinco meses atrás, o meu corpo encaixou-se no teu. Não, Ana, não foi durante a gravidez, foi mesmo no dia em que nasceste, no dia em que te recebi.
As minhas mãos têm o tamanho exacto para engolirem as tuas e as aquecerem quando estão frias. Quando te encostas ao meu peito e te enroscas como um bichinho-de-conta, os meus braços envolvem-te, exactamente, na medida certa. O curvo da tua testa, o arrendondar da tua cabeça pedem-me que levante o queixo e os deixe pousar na curva do meu pescoço, como se fosse um modelo perfeito de uma chave e de uma fechadura. A tua pele tem a temperatura da minha, excepto quando tens frio e o meu corpo te aquece ou quando tens calor e o meu soprar tem a frescura exacta para te refrescar.
O teu sorriso engole, inteirinha, a minha alma, sem deixar nada que sobre, nada que exceda, o teu sorriso é a toca da minha vida, a casa à medida para eu ser feliz.
Quando brincamos, o teu pezinho gosta de me tocar nos lábios e eu engulo-o, num jogo de faz de conta, os dedinhos, o peito do pé e cabes inteirinha naquele jogo de amor. O meu braço esticado tem o comprimento do teu tronco, quando te repouso nele para te massajar a barriga e te afastar a possível dor. Os teus olhos, azuis, são o tecto da minha vida, o sinal de esperança de que o sol sempre brilhará, sem nuvens nem chuva nas nossas almas, sao assim os teus olhos azuis, como o céu num dia de Verão.
O meu colo, ah, o meu colo, Ana! O meu colo foi recortado para ti, ainda bem que foste tu quem aqui chegou, há cinco meses atrás, porque no meu colo não cabe desta forma nenhum outro bebé, costumizado que foi para ti, feito à medida para me tornar mãe. Mãe de ti.
Sabes, Ana, às vezes tenho medo que cresças, que deixes de me servir, que não caibas mais em mim. Mas, filha, acredito que os corpos se adaptam aos filhos, e o meu também crescerá à tua medida, como um puzzle ao qual acrescentam peças e, ainda assim, não se estraga o desenho original, tornando-o ainda mais completo e perfeito. Até ao dia em que seja o meu corpo, velhinho e vivido, que passe a caber todo em ti.

Um beijo da tua mãe

(As cartas para a Ana, a partir deste mês, passam apenas a ser publicadas aqui)

25 comentários:

  1. Quando se gosta tanto como eu gostei deste texto não se deve dizer nada...para não estragar...o rio que nos sobe aos olhos bastará para que o outro saiba quanto nos tocou...mas tu não estás aqui para ver Pólo, por isso tinha que to dizer...
    Parabéns Ana!

    ResponderEliminar
  2. Muito bonito! E muitos parabéns para as duas!

    ResponderEliminar
  3. Adoro as tuas cartas à Ana. Parece que é outra Pólo Norte, não melhor, não pior. Outra. Parabésn Ana (diz-se Parabéns?)

    ResponderEliminar
  4. Que linda carta, fiquei emocionada

    ResponderEliminar
  5. Vai caber sempre, acredite. Os colos de mãe são como plasticina, vão-se adaptando.

    ResponderEliminar
  6. O melhor post sobre a maternidade que já li.

    Permite-me que o partilhe no Dolce Far Niente.

    Um grande beijinho para as duas!

    ResponderEliminar
  7. Espetacular como sempre polo! Claro que vai sempre caber.
    Beijinho para as duas.

    ResponderEliminar
  8. encaixam que nem puzzles : parabéns!!! :)

    ResponderEliminar
  9. "Marabilhoso":) deixou-me a lágrima no canto do olho...mas melhor, fez-me reviver cada momento e recordar como o meu Peter pan também tem encaixado em mim ao longo destes quase 15 meses... um puzzle que vai crescendo e ganhando formas diferentes mas que sempre encaixará:)
    Obrigada pela partilha! Beijinho para as 2:)

    ResponderEliminar
  10. Parabéns bebé... daqui a muitos, muitos anos, continuarás a ser sempre o bebé da tua mãe...

    ResponderEliminar
  11. Já tinha lido no babyblog :) sem palavras, lindo mesmo!

    ResponderEliminar
  12. ponto final . (nada a acrescentar...está aí tudo)

    ResponderEliminar
  13. Adorei. Está lindo o texto. Parabéns.

    ResponderEliminar
  14. Pólo, cheguei aqui através de um post publicado num blog que sigo o "Dolce Far Niente". Não resisti e li e estou comovidissima. Lindo Pólo, lindo. Das coisas mais lindas que já li. Não resisto em comentar, porque não sou, ao contrário do que na altura pareceu, uma blog hater. E, agora, com a tua licença, vou por um link no meu blog para este texto que merece ser conhecido do mundo!

    ResponderEliminar
  15. Mas que ternura... tu tens alma de poetisa, mesmo que não queiras.

    ResponderEliminar
  16. Está lindo este texto, escreves muito bem, ou seja sabes transmitir em palavras o que estás a sentir.
    Parabéns!!!

    ResponderEliminar
  17. Vi o link, vim espreitar e estou aqui com lágrimas nos olhos, emocionada perante tamanha beleza e ternura.

    Parabéns!

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  18. Fiquei arrepiada. Não sou mãe ainda, mas desejo ser. E depois desta descrição de puro amor, acredito ainda mais que não deve existir sentimento maior... Lindo Pólo!

    ResponderEliminar
  19. Parabéns, que texto mais lindo e cheio de ternura!

    ResponderEliminar