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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

13-01-1999



Nem sonhas, Liliana, mas essa não vai ser uma curte. Não fiques despeitada com os colegas e amigos que dizem que não vai durar porque vocês são tão diferentes, com a cigana que vai ler na tua palma da mão que nunca se chegarão a casar, com a família que vai ter receio que acabe depois de revelados problemas de saúde, do fim da universidade, de quando chegarem as contrariedades ou quando o dinheiro da bolsa de estudo acabar e o regresso dele seja a única solução. Não tenhas medo de te entregar que vai valer a pena. Olha-o no mais profundo azul dos olhos e mergulha aí para sempre: a pele vai ganhando rugas, o cabelo loiro enchendo-se da cinza do tempo, o corpo engordando e emagrecendo, a expressão ficando menos pueril e cansada mas esse azul permanecerá. 
Os braços que hoje te abraçam pela primeira vez abraçar-te-ão vezes sem conta, segurarão no teu avô ao colo para o ajudar a passar da cadeira de rodas para a cama vezes sem fim, apoiar-te-ão das duas vezes que os enterrares, primeiro a ele, depois a ela, farão um colo que servirá de caverna escura para enterrares a tua cabeça e a tua dor e chorares lágrimas ininterruptas, ampar-te-ão de todas as vezes em que o teu corpo fraquejar com dores e medos e nunca, mas nunca te deixarão cair. Esses braços são os mesmos que te acolherão num aeroporto dos Açores quando quiseres recuperar o que é teu e entrelaçar-se-ão nos teus no esperado e definitivo regresso a casa. 
As mãos que hoje te desenham em jeito de caricatura, Liliana, serão as mesmas que te limparão lágrimas, te passarão água fresca nos olhos e na face e te ajudarão a reerguer, são as mesmas que embalarão pela primeira vez a tua filha, daqui a 13 anos e  saberão consolar birras, prender rabos de cavalo em elásticos, desenhar rabiscos nas toalhas de papel dos restaurantes para a entreter e fazer festinhas e cafuné para sempre. 
Os lábios que hoje tocam nos teus pela primeira vez beijar-te-ão o cabelo perante cada momento de dor, o pescoço em cada guerra de cócegas e brincadeiras sem fim, a fronte tua e depois da tua filha para medir a temperatura, beijar-te-ão as mãos no dia em que se ajoelhar numa praia para te pedir em casamento e o dedo anelar hospedeiro da aliança no dia em que prometer que será para sempre e beijar-te-ão, enfim, os lábios em cada despedida e reencontro, antes da separação selando um adeus que nunca o chegará a ser e na reconciliação que vos tornará mais fortes e invencíveis: o "para sempre" um do outro. Este beijo que hoje provas será teu para sempre, por todos os motivos e sem motivo nenhum. 
E quando tudo falhar, Liliana com 18 anos, quando houver incertezas e dúvidas, crises e desgostos, raiva e lágrimas, dor e revolta, vozes a gritar e zangas, luto e desesperança, quando os braços e os abraços, as mãos e o toque, os lábios e os beijos não forem suficientes mergulha no azul dos seus olhos, o mesmo azul que a tua filha herdará, e lava a alma e as certezas, refresca o coração e o amor e reabastece-te da certeza, da segurança, do conforto de que "é para sempre". 
Porque o será. 

13 comentários:

  1. Simplemente maravilhos.Desejo-vos as maiores felicidades :) Merecem!
    (eu e ele atinjimos este ano a maioridade do nosso happy ever after)

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  2. Que bonito, Liliana! Muitas, muitas felicidades. Porque um amor assim merece tudo de bom :) e a inveja boa que sinto... :)

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  3. Este texto está qualquer coisa de extraordinário. É tão bom amar assim... Felicidades.

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  4. Vou ser mega angolana no meu comentário, mas 17 anos é muita cuca. Que post lindo! que venham muitos muitos mais.

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  5. Que bonito! :)
    Agarra-te a esse homem pá.

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  6. Que texto bonito :) quem me dera a mim ter daqui a uns anos uma história tão bonita para contar (quase, vá :P)

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  7. Que lindo :') que esses olhos azuis iluminem para sempre o vosso "para sempre"

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  8. Chegar ao trabalho já cansada depois de pôr uma criança na escola e levar outra ainda bebé para casa dos avós, chegar atrasada e sentir-me mal por isso, não gostar deste emprego por não me fazer sentir útil, não estar nos melhores dias com o marido, achar que há tanta coisa que nos afasta e de repente, aqui, sozinha, ler este texto e ficar com as lágrimas nos olhos porque é um Amor comovente, um Amor sem fim, um Amor desenhado para perdurar no tempo e isso é tão difícil de encontrar que emociona! Liliana, que amor tão bonito!

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  9. Lindo, lindo! Dos melhores textos que já vi por aqui (e já vi muitos). Sejam felizes. :)

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  10. É mesmo para deixar a lágrima no canto do olho. Felicidades :)

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