Atenção: contém spoilers
Nunca fui fã do Sexo e da Cidade.
Tentei ser, juro, para parecer da malta fancy e urbano-coisa e moderna do início dos anos 2000. Mas aquilo nunca me representou, não só porque a distância entre Alcabideche e Manhattan é colossal, como estudar no ISCTE à custa de empadas, mini-quiches do bar do Sr. António e minis estava um bocadinho longe de se se beber cosmopolitans com amigas em Nova Iorque e ainda porque, pronto, eu vestia Zara e calçava Doc Martens e isso assemelhava-se tanto aos oufits da grupeta como a minha cara ainda cheia de borbulhas ao rosto esplendoroso da Sarah Jessica Parker.
Dizia eu que nunca fui Sex and The city team, pelando-me por séries da Britcom como "Absolutamente Fabulosas" ou " A Vigária". Entre o glamour e o trash vejj-me sempre a mergulhar ferverosamente na porca miséria.
Por isso, a primeira vez que vi "Bridget Jones", não sendo o filme nenhuma obra prima, rapidamente se tornou num filme da minha vida. Humor auto-depreciativo, comédia física e todos os clichés que adoro, porque uma pessoa, aos 20 e tal anos, quer ir ao cinema para adivinhar o guião e confirmar a sua perspicácia, não para ter surpresas nem reflexões metafísicas.
Assim, quando a Ana -com quem já vi todos os Bridget Jones anteriores (tem quase 13 anos: não me julguem!)- me desafiou para irmos ao cinema ver o novo filme fiquei num excitex.
Quando saí disse-lhe logo "ai, filha, finalmente! A Bridget Jones também tem papos debaixo dos olhos" e olhem- aguentem-me!- soube-me pela vida ver que a Bridget Jones envelheceu, não só eu, não só a actriz mas, especialmente, a personagem.
E, de repente, eu ali: com menos graça, mais consciente e prudente, menos auto-centrada, com toda a culpa materno-judaico-cristã que assiste à maioria das mulheres da minha idade, a achar graça aos Daniel desta vida mas a saber o exacto lugar deles, a deixar-se surpreender pela vida mas conhecendo os seus próprios limites e- mais importante- a estabelecê-los, a dizer que não, a saber o que não é para ela e a prosseguir. Madura, cansada, menos eufórica e mais solitária, mais confiante mas ainda assim com aquela dose de incerteza (não insegurança, incerteza mesmo) de quem vive coisas pela primeira vez.
Bridget, na meia idade, continua a representar a minha geração. Pelo menos a das suburbanas, que vivem em terras como Alcabideche, comem comida congelada porque estão exaustas, vestem C&A e calçam ténis rasos porque têm pressa de viver as múltiplas vidas entre família, casa, trabalho e tudo e tudo, para além do ideal adulto de se brindar aos fins da tarde com Cosmopolitans.
Bridget Jones is fucking alive! As well as us!
Como sabes, tenho mais de duas décadas de anos do que tu, mas partilho muito esta tua visão. Seja sobre o Sex and the City seja sobre a Bridget. A Bridget podia ser eu, a minha amiga, a minha prima mais querida. Era terra a terra, perdia muitas vezes para a comida, fazia asneiras, dizia disparates mas depois tinha sempre aquela dose de discernimento no momento certo. Ainda não vi o último, mas já está em agenda :)
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