segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A Bridget Jones também tem papos debaixo dos olhos (e ainda bem)

 



Atenção: contém spoilers

Nunca fui fã do Sexo e da Cidade. 

Tentei ser, juro, para parecer da malta fancy e urbano-coisa e moderna do início dos anos 2000. Mas aquilo nunca me representou, não só porque a distância entre Alcabideche e Manhattan é colossal, como estudar no ISCTE à custa de empadas, mini-quiches do bar do Sr. António e minis estava um bocadinho longe de se se beber cosmopolitans com amigas em Nova Iorque e ainda porque, pronto, eu vestia Zara e calçava Doc Martens e isso assemelhava-se tanto aos oufits da grupeta como a minha cara ainda cheia de borbulhas ao rosto esplendoroso da Sarah Jessica Parker. 

Dizia eu que nunca fui Sex and The city team, pelando-me por séries da Britcom como "Absolutamente Fabulosas" ou " A Vigária". Entre o glamour e o trash vejj-me sempre a mergulhar ferverosamente na porca miséria. 

Por isso, a primeira vez que vi "Bridget Jones", não sendo o filme nenhuma obra prima, rapidamente se tornou num filme da minha vida. Humor auto-depreciativo, comédia física e todos os clichés que adoro, porque uma pessoa, aos 20 e tal anos, quer ir ao cinema para adivinhar o guião e confirmar a sua perspicácia, não para ter surpresas nem reflexões metafísicas. 

Assim, quando a Ana -com quem já vi todos os Bridget Jones anteriores (tem quase 13 anos: não me julguem!)- me desafiou para irmos ao cinema ver o novo filme fiquei num excitex. 

Quando saí disse-lhe logo "ai, filha, finalmente! A Bridget Jones também tem papos debaixo dos olhos" e olhem- aguentem-me!- soube-me pela vida ver que a Bridget Jones envelheceu, não só eu, não só a actriz mas, especialmente, a personagem. 

E, de repente, eu ali: com menos graça, mais consciente e prudente, menos auto-centrada, com toda a culpa materno-judaico-cristã que assiste à maioria das mulheres da minha idade, a achar graça aos Daniel desta vida mas a saber o exacto lugar deles, a deixar-se surpreender pela vida mas conhecendo os seus próprios limites e- mais importante- a estabelecê-los, a dizer que não, a saber o que não é para ela e a prosseguir. Madura, cansada, menos eufórica e mais solitária, mais confiante mas ainda assim com aquela dose de incerteza (não insegurança, incerteza mesmo) de quem vive coisas pela primeira vez.

Bridget, na meia idade, continua a representar a minha geração. Pelo menos a das suburbanas, que vivem em terras como Alcabideche,  comem comida congelada porque estão exaustas, vestem C&A e calçam ténis rasos porque têm pressa de viver as múltiplas vidas entre família, casa, trabalho e tudo e tudo, para além do ideal adulto de se brindar aos fins da tarde com Cosmopolitans. 

Bridget Jones is fucking alive! As well as us!


sábado, 15 de fevereiro de 2025

Ob-la-di, ob-la-da, life goes on, brah...




Eu tenho sempre boa intenção. Mas depois mete-se a vida, essa talarica.*

Primeiro veio o aniversário de namoro e uma escapadinha surpresa a Madrid. Tinha intenção de blogar desde Madrid (dude, eu sou a pessoa que ia de férias semanas seguidas e blogava todos os dias com novidades e roteiros e textos escorreitos e organizados e divertidos e tudo e tudo) mas depois meteram-se as visitas aos museus, a descida do Rastro, a invasão a mini galerias refundidas e a livarias excêntricas, mais aquele restaurante incrível com 20 qualidades de ovos rotos, a pastelaria de charme onde comprei um praxinoscópio de presente para o Rui e ainda o bar que era uma antiga redação de jornal e passeios de mãos dadas ao sol de inverno e, quando vi, já era. 

Voltei para Portugal e aqueles três dias de férias sairam-me caros com muito trabalho por recuperar e uma activadade intensa na associação (acho que já aqui disse que sou Presidente da associação e todos os dias me chicoteio pela ideia peregrina em ter assumido um compromisso que representa, praticamente, um segundo trabalho a tempo inteiro). Ando realizada, já se sabe, mas a realização não repõe horas de sono nem o desgaste do corpo. Podre, sou uma mulher podre. 

Ainda fui ao cinema ver o "Ainda estou aqui" e queria ter vindo aqui escrever a minha opinião mas, depois, quando pisquei os olhos, era fim do mês. E acho que fiquei com uma tendinite, porque não tinha posição para me deitar. E morreu o pai de uma colega. E a miúda teve pausa de final de semestre, mais notas e, claro, como me ocorreu que era boa ideia aceitar ser a representante dos pais da turma da Ana ainda houve reuniões na escola. A 31 de janeiro fiquei com uma febre desgraçada mas depois meteu-se o ano novo chinês (que, btw, este ano estava uma bela caca lá na Alameda) e no fim de semana a seguir o Rui fazia anos. E a minha mãe no dia a seguir. Já avisei a Ana que quando arranjar uma cara metade tem que filtrar se não faz anos perto de mim nem do pai, que isso é logo um factor de exclusão. E também avisei que com pais psicólogos é provável que lhe queiramos aplicar umas provas psicométricas, para termos a certeza de que não acaba casada com um traste ou um eleitor do Chega, que é mais ou menos a mesma coisa. 

E pronto, o Rui fez anos e não queria "fazer nada de especial", o que significou que fomos almoçar a um bistrot grego e passar a noite a um hotel com spa e, claro, podes tirar a pobre das barracas mas não tiras as barracas da pobre, eu e a Ana encafuámo-nos na piscina quentinha, e depois na sauna e à saída da sauna eu já estava meia grogue, mais jacuzzi e- não perguntem como- ainda passámos num LIDL outlet na margem sul, com centenas de pessoas às compras, que só justifico porque estava já praticamente sem oxigénio no cérebro. A minha mãe comemorou o aniversário no dia seguinte e o jantar foi cá em casa e limpámos a mansão e cozinhámos prato de peixe e carne e ainda fizemos sobremesa e eramos quinze à mesa e eu já estava mais para lá do que para cá. 

A modos que passei o domingo a dormir non stop, achava-se que era de cansaço, até porque eu sou a pior a ouvir o meu corpo que ou o gajo fala um idioma que eu não compreendo ou sou eu que sou surda mesmo, mas quando acordei na segunda eu já não era eu, e o meu corpo lá terá achado um espacinho na minha agenda para, licencinha, me oferecer um febrão a sério e me mandar para as urgências. 

E aqui estou, com uma pneumonia, obrigada, como têm passado? Parece que saunas no inverno não são boa ideia- disse-me o médico- Que as bactérias fofinhas adoram copular no quentinho e uma decidiu que uma viagem ao meu pulmão esquerdo era praticamente um retiro espiritual e ali ficou num shanti shanti. O antibiótico é de uma boa casta, acredito que mate tudo o que se mete no seu caminho, na minha cabeça vem sempre a ideia dos bonecos do Era uma Vez a Vida, mata tudo,já disse? Até a minha flora intestinal e a modos que, sim senhora, estou melhor dos pulmões mas os meus intestinos e estômago estão uma porca miséria.

Eu bem que queria blogar, juro-vos. Mas entretanto uma deputada de extrema direita decidiu ofender a comunidade de pessoas com deficiência e eu estive obcecada a spamar todos os endereçoes de todos os deputados da Assembleia da República com uma nota de repúdio que preparámos lá na Associação. E depois- hoje-  meteu-se o dia dos namorados e quando estava a sair do carro, abri o porta bagagens e quando o fechei não vi que o Rui tinha metido o nariz onde não era chamado e fechei-lhe com a porta na tola, a modos que o incrível fondue que tinhamos preparado foi comida à sombra de um novíssimo e a estrear segundo lenho na testa que já levou pontos colados, ainda não eram nove da noite. 

Desconfio que, nas urgências hospitalares, me irão ofecer um cartão cliente frequente. Às tantas quando tiver dez carimbos oferecem-me uma garrafa de soro. Ou uma arrastadeira, que por acaso, agora era o que me dava mais jeito agora. 

Na sexta que vem volto à Assembleia da República, pois serei nomeada para uma coisa importante na área da deficiência. Estou mortinha por me cruzar com a senhora deputada da extrema direita, até porque toda a gente conhece a minha elevada maturidade. 

Entretanto, prometo que volto a blogar. Só não me consigo comprometer quando. A vida é uma talarica*, já me diz a minha filha. 


[* talarica é a nova versão teen para profissional do sexo: adoro a expressão!]

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