sexta-feira, 21 de junho de 2019

21 de Junho: solestício de Verão



Ando a escrever um livro para a Ana, avô. ´

Já vai com muitas páginas e conta as histórias da nossa família para ela um dia ter certeza de que sangue e fibra é feita, de onde vem (de onde “bem”), que histórias a trouxeram até ao meu ventre, que adn moldou o seu carácter, espírito, coração.

 Reparei que muitas pessoas de cujas histórias lhe relato chegaram até mim em farrapos de momentos e cujas histórias de vida lhe resumo num parágrafo, dois se tanto. A tia Isaura que morreu com uma apendicite e que foi enterrada vestida de noiva de véu e flor de laranjeira depois do namorado confirmar que morria virgem e imaculada. A tia Maria que escondeu uma gravidez concebida no meio do milho e que foi mãe solteira para vergonha de toda a gente, sem nunca mais ter conhecido outro homem que não o cretino pai da filha que nunca a perfilhou. A tua mãe, minha bisavó Ana, que morreu queimada porque teve uma crise de epilepsia enquanto se aquecia à lareira. 

Decoramos e transmitimos de geração em geração as pessoas assim: por acontecimentos invulgares ou excepcionais, por feitos não normativos. Nunca resultam em mais de um parágrafo. 

No entanto, a ti avô, dedico várias páginas deste livro e tu eras tão normativo e previsível, tão certinho e normal e ainda assim o homem mais importante da minha história, luz e calor, referência securizante e óbvia, solstício de Verão na minha vida. 

A tua vida e o verão com que iluminou as nossas davam um livro cheio de amor, ternura, dedicação e bondade. Hoje fazes 89 anos. 

Continuas a fazer enquanto não fores apenas um parágrafo resumido na história dos teus descendentes futuros. F

azes 89 anos porque não és passado em mim, nunca me passarás, querido avô, presente de presença e presente de prenda, presente ao quadrado para sempre em mim. 

Parabéns!
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