Descias as escadas a caminho da ala autónoma e eu vi-te pela primeira vez. Os nossos olhares cruzaram-se num segundo e eu senti qualquer coisa cá dentro que podia ser amor à primeira vista, acreditasse eu na altura ou mesmo hoje no amor à primeira vista. Horas depois éramos amigos, como se nos conhecessos desde sempre, como se eu na altura soubesse onde ficava São Jorge no mapa e eu nem sabia ao certo tão pouco o nome das nove ilhas dos Açores.
Depois mudei-me para a tua turma, os professores ficavam confusos, nunca pedi transferência mas às tantas as minhas notas saiam nas vossas pautas e tudo fluía, sentávamo-nos lado a lado no auditório, tu davas-me, pacientemente, explicações de história nos jardins de Belém e eu retribuía, trocista, tudo o que sabia sobre neurónios e sinapses e a estrutura do cérebro naquela cadeira do professor esquisito.
Depois foi num instante Natal e fomos ao Martim Moniz comprar prendas, não tínhamos dinheiro para nada, comiamos sempre na macrobiótica da cantina, pediste-me dinheiro emprestado e eu achei que não voltarias das férias da ilha que eu não sabia localizar no mapa, nem me devolverias os cinco contos e era início do segundo semestre e eu tinha saudades tuas, queria lá saber do dinheiro para alguma coisa. E voltaste, devolveste o dinheiro e trouxeste-me um presente, só para mim, para mais nenhuma amiga e uns dias depois cravaste-me um beijo e eu não me fiz de esquisita, mortinha que estava para deixar de fazer cerimónias.
E depois já desciamos a avenida de mãos dadas, e passávamos férias juntos, e um dia os teus pais vieram cá e conheci-os, também já ias a minha casa há algum tempo, todos sempre gostaram de ti, é mesmo fácil gostar de ti.
E estudavas e trabalhavas no café, eu dava explicações, íamos de carreira que apanhavamos no arco do cego passar fins de semana em pensões com percevejos em terras mais longe e depois o curso acabou, tu ficaste, começámos a trabalhar, eu, tu, daí a alugar a casa na praceta foi um passo, casar pela igreja dois, ter a Ana num piscar de olhos, mudarmos de casa uma e depois outra vez, mobília às costas, literalmente, sempre fácil, mesmo quando era dificil.
E houve crises que não nos lembramos por preguiça ou por escolha, não gostamos de coisas complicadas, e há sempre histórias a serem escritas, aguarelas a serem pintadas, vida a ser vivida e momentos importantes a ser construídos.
Foste e és a melhor escolha da minha vida, a única que fica sempre, a decisão mais acertada, a companhia mais certeira, a pessoa mais fácil de gostar, o pai mais fantástico que já conheci e um marido, acima de tudo, incrivelmente bondoso, generoso, paciente e um homem bom. Depois há o amor, mas do amor não há muito que se lhe diga, não tem mérito, não dá trabalho, é fácil gostar de ti, se acreditasse em amor à primeira vista seria isso, assim eu só amor em todas as vistas, em todos os ciclos, em todas as células que amo em ti.
É fácil amar-te porque não há outra alternativa face ao homem incrível que foste crescendo comigo. Para a Ana. Para mim.
Parabéns, Rui.
No soy Georgina, mas o melhor do Mundo sequei-o eu.
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