sexta-feira, 8 de abril de 2022

Ir

 Há dias extraordinariamente ambivalentes.

De repente, há uma janela que se abre, se escancara para ti e tu ficas ali, sem saber se trepas, se a fechas e ficas ali, indecisa entre o calor de uma casa que conheces- onde te sentes em família, onde podes andar de pés descalços e sabes que há sempre comida quente sobre a mesa, abraços à tua espera - e o fresco das aventuras que te espera no outro lado do vidro, nas ruas desconhecidas cheias de desafios por desbravar. Sentas-te no parapeito da janela e olhas ora para dentro, ora para fora, o conforto de dentro, a casa e a família e todas as possibilidades em aberto de fora, tudo o que pode acontecer, a novidade, a mudança e tu até não és nada avessa à mudança. Fechas as portinholas e voltas para o calor? Ou pões uma mão de fora para testar a temperatura e, num salto de fé (é sempre de fé que se trata) saltas para o desconhecido (e se for um abismo? E se correr mal? E se ficares perdida ao frio? E se nunca encontrares o caminho para voltar? E se nunca mais houver volta?)?

Há dias extraordinariamente ambivalentes em que ficas de coração partido e, ao mesmo tempo, de coração acelerado porque dói sempre quando deixas quem gostas na mesma proporção do entusiasmo e da expectativa de quem está por conheceres, de quem um dia irás gostar.

Hoje foi um dia extraordinariamente ambivalente e eu vou saltar da janela porque a sorte protege os audazes e a mudança dá um medo do caraças mas nada nos lembra com mais poder de que estamos vivos.

Pode correr mal. Mas também pode correr bem.

Que a sorte, a fé e o afecto de quem fica dentro dos vidros da janela me proteja. Casa será sempre casa mas eu sou feita do verbo ir. Abram-se as janelas de par em par: estou a ir!

Vamos lá.

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