segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Dores (maternais) de crescimento

 A gente anota o primeiro dia em que se sentam, em que lhes nasce o primeiro dente e depois em que lhes cai também, em que dão os primeiros passos, do primeiro dia de creche e depois, todos os anos, de escola. A gente anota a primeira palavra dita e a primeira escrita, o primeiro desenho de figura humana e o inaugurar de tantos estadios.

Há sempre o encanto desmesurado nos inícios, nos princípios, nos começos, nas primeiras vezes.
Mas são muitos os dias que são os últimos dias em que fecham ciclos.

Este foi, provavelmente, o último dia em que a Ana assomou à janela para esperar o Pai Natal.
Há uma beleza nostálgica no fim de ciclos. Foi incrivelmente bom viver a magia do velho de barbas nove anos com ela: ser o pai, acompanhá-la a escrever-lhe, ir de mãos dadas com ela aos CTT por as cartas, ano após ano, tocar o sino escondido da na cozinha, segui-la na correria de tentar vislumbrá-lo, ouvi-la a jurar que o viu no céu porque só os olhos das crianças vêem o invisível.

De janela aberta anoto aqui a luz do balão para sinalizar o spot, a caixa de take away com bolachas e cenouras porque há covid e ele tem que levar o repasto porque já não se come ao postigo e o sorriso de quem desconfia que não é real mas que escolhe em acreditar.

A magia não fechará a janela, mesmo que tenha sido esta a última vez.

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