quarta-feira, 24 de julho de 2024

Limetree

 A maior aprendizagem que se pode fazer na vida é saber lidar com o fim da vida. Primeiro o dos outros, sempre como projeção do nosso.

Há dois meses morreu um homem íntegro, um bom marido, um pai presente, uma pessoa entusiasmada e cheia de vontade de viver, com planos e projectos, vida por cumprir.
Colaborámos juntos num projecto dele, para o qual eu estava despreparada e ele achou que não, e fiquei sempre com uma dívida de gratidao pela sua crença irrealista em mim. Esta era uma das características distintivas desse homem, que ja cá não está e eu nunca lho vou poder dizer, uma coragem inconsequente em arriscar. Sem medo de perder nem de bater de frente com o insucesso e o fracasso.

Fizemos coisas giras juntos, num tempo em que descobriamos o poder e o perigo das redes sociais e em que, por escrever num blog, havia muita gente a acreditar na minha despreparação.
Tenho pensado muito nele e na finitude da matéria que somos, das pessoas que amamamos e que permanecem para além de nós, das pessoas que continuamos a amar e que desaparecem assim, como ele, sem levar a barriga cheia de vida sem se ter fechado o prato da existência e cruzado os talheres em sinal de satisfação.

Talvez eu propria morra sem conseguir aceitar o ciclo ilógico da nossa existência. E talvez a morte daqueles com quem privámos refeições à mesa, conversas enquanto se lavava loiça à mão, ideias para projectos que nunca se realizaram seja apenas um evento sem sentido nenhum, do qual não se retira qualquer lição ou aprendizagem, apenas a constatação triste da nossa própria insignificância no universo e que tudo o que nos sobra é acreditar.

Crer.
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