Entro na sala onde os candidatos já estavam a fazer provas psicométricas e sento-me um bocadinho afastada. A estagiária passa-me o dossier com o processo e o nome dos candidatos bem como a planta da sala, para que eu possa assistir à dinâmica de grupo e tirar as respectivas anotações.
Os meus olhos fogem, de imediato, para um nome que me era familiar. Procuro-o na sala e reconheço-lhe o rosto de miúdo, os olhos castanhos expressivos e o sorriso de que nunca me esqueci.
O Paulo foi o primeiro rapaz que me fez palpitar o coração, aos seis anos, numa colónia de férias. Éramos "namorados", daqueles à antiga, que iam de mão dada para a praia, ele de braçadeiras enfiadas nos braços e eu de balde e ancinho na mão livre. Dávamos beijinhos na boca com as bochechas cheias de ar e marcámos os Verões da primeira infância um do outro, até que o Paulo se mudou para os Açores e lhe perdi o rasto.
Nunca se esquece as pessoas que nos marcam a nossa infância: ainda me lembrava do seu nome completo (o mesmo que constava no remetente das cartas que me escrevia e que vinham à cobrança do destinatário, mas que a minha mãe docemente pagava por achar uma ternura aquele gostar), da data de aniversário, do rosto de menino.
Permaneci calada enquanto a estagiária prosseguia com as instruções da dinâmica de grupo. O Paulo levantou os olhos e viu-me. Olhou-me, num misto de incredibilidade e admiração, e disse baixinho o meu nome. "Eu conheço-te"- foi a observação parva que me saiu da boca. Ele sorriu e disse "nunca me esqueci da nossa música". Sorrimos, cúmplices.
A música pode não ser boa, mas os momentos "Closer" na vida real não conseguem ser perfeitos. Mas têm uma ternura especial. A ternura do cheiro a infância.