Neste dia escrevo quase sempre sobre a nossa história, o nosso passado. Mas a nossa vida é um presente de presente e uma prenda promessa de futuro. Há tanta coisa que fazemos em parelha e somos incríveis: cuidarmos um do outro todos os dias, nas mais pequenas coisas, no café que me fazes e que me passas quente para as mãos mal saio da cama todas as manhãs, a boleia para a porta do trabalho, o braço que me dás sempre quando tenho crises na perna, o colo a vermos filmes, a sintonia com o olhar que dispensa palavras, o entendimento mútuo a educar a Ana, as palavras de incentivo, o silêncio que te permito quando estás a ler, as gargalhadas que te arranco nas viagens intermináveis nas road trips e os karaokes conjuntos porque não se ama alguém que não ouve a mesma canção, eu a aprovar as roupas que escolhes, a chávena de chá que estendemos sempre um ao outro quando estamos doentes, a febre medida com os lábios na testa um do outro, conchinha na cama, mergulhos conjuntos no mar, o abraço em que encaixamos tão bem, estarmos sempre lá, um para o outro, nos momentos profundamente tristes mas nos aplausos em cada vitória porque sempre que um ganha a vitória é de todos.
Há tanta coisa que nos falta fazer no futuro: uma latada com uma videira para partilhamos refeições à sua sombra, um gira discos que havemos de comprar para dancarmos slows sozinhos e descalços no chão da casa nova, viagens e sítios novos a descobrir, sobrevivermos à adolescência da Ana, stalkarmos a bicha aos fins-de-semana durante o Erasmus em Paris, tantos museus na lista para visitarmos, nadar no Mediterrâneo, dançar um tango mal engembrado em Buenos Aires, o livro em conjunto que havemos de escrever, uma oliveira à porta da entrada, voltarmos à Tunísia nas nossas bodas de prata, um cruzeiro quando formos velhos e excursões do Inatel a estâncias termais quando formos reformados, tu a pintares aguarelas num pequeno jardim de inverno, eu a plantar flores que não irei deixar morrer, talvez sermos avós e pudermos, em conjunto, estragar de amor crianças sem as educarmos, um dia um de nós partir primeiro e todo o amor que sentimos sobreviver até que o outro dê o último suspiro.
E mesmo assim não vai acabar porque a Ana será sempre passado, presente e futuro de nós dois e somos mesmo os melhores a fazer pessoas porque juntos ninguém nos apanha, juntos somos imbatíveis e felizes para caramba, mesmo nos dias que não são felizes. E o amor não é apenas a felicidade que persiste: é a felicidade que resiste.
Parabéns a nós, grunguinhos. Faltam nove anos para a grande festarola!