sábado, 23 de dezembro de 2023

domingo, 3 de setembro de 2023

Dezassete




Viver comigo não é pera doce. Gosto de palco e plateia, aplausos, luzes e focos, cenários bonitos e microfones amplificados. E estou sempre no improviso na boca de cena, sem ensaios nem guiões, na vida por impulso, na corda bamba sem redes mas também sem medo.
Ocupo muito espaço, não peço licença e sou barulhenta e nunca permito ser menos que a actriz principal da minha vida.
Que, há dezassete anos, passou a ser a nossa com palco partilhado, cenografia partilhada, luzes partilhadas e aplausos partilhados.
Partilhar a boca de cena comigo deve ser terrível, quase dramático. Não sei como ficaste.
Por outro lado és tu que me serves de ponto a maioria das vezes para que não faça má figura por não decorar os textos, és tu que me ajeitas o cabelo para que a luz incida sobre o meu melhor ângulo, és tu que me relembras dos exercícios de respiração antes de entrar em cena e quando me dá o pânico, és tu que me ensinas a projectar a voz e a mover-me em palco de forma regrada, para que todos me vejam.
E és especialmente tu -que preferes os bastidores da vida e o camarim da intimidade -que me permite ser eu, nunca abdicar de ser eu, meia diva, meia palhaça, equilibrista sofrível na corda bamba, mesmo que há dezessete anos tenhamos decidido firmemente ser um nós.
Comemoramos dezassete anos de casados e eu sei hoje, como naquele dia três, que eu posso ser a tua diva preferida mas que só o sou porque o melhor aplauso é o teu. E sem o teu, o resto é vazio e silêncio, cortina triste e fechada.
Obrigada por me amares pelo que sou e como sou: sem ti eu, a esta altura, já não seria eu.
És o melhor contra-cena do Mundo: todas as luzes e aplausos são e serão sempre no plural. Obrigada por isto e todo o tanto.

Amo-te. 

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