Quando vos falarem pela primeira vez da expressão "skin care" não dêem troco: é uma armadilha!
Acordo com herpes labial no lábio superior em dois sítios.
A minha filha cruza-se comigo no corredor, olha-me com ar de blheeerck, disfarça para não levar uma berlaitada e atira com um:"O herpes é o botox dos pobres, não achas, mamacita?"Pergunta-me a minha filha, com os olhos muito arregalados:
"Tu és UMA PERSONALIDADE, mãe?!"
Peluches do Noddy, da elefanta cor-de rosa de cujo nome já não me lembro, da Ursa Teresa e do Mafarrico. Mershandising variado dos vários festivais do Panda e porcarias várias com a cara da Pipa porque a Ana nunca gostou da Clarinha. Nenucos, roupinhas dos Nenucos e carrinhos dos Nenucos e a miúda nem nunca curtiu por aí além bebés e jogo simbólico com bebés. Todo um manancial de vestidos de princesas e bonecas da Elsa e da Ana e o dinheiro que congelei para todo o sempre em porcarias da Frozen. Tendas, casinhas, yourts e cheira-me que, se um dia, a miúda for uma nómada hippie fui eu que impulsionei a trend. Camisolas da Vampirina, malinhas da Princesa Sofia, iô-iôs da LadyBug e walkie-talkies do Gato Noir. LOLs e o atentado ecológico de toneladas de plástico em bolas redondas onde vinham as bonecas, cada uma ao preço de uma caixa de camarão. Barbies, barbies, muuuuuuitas barbies, casas das Barbies, carros das Barbies, a caravana das Barbies a esperança que um dia venha a ter uma neta para amortizar a fortuna gasta em Barbies. Unicórnios em overdose: peluches, roupas, my little poneys, livros, miniaturas, um busto de unicórnio para a parede tipo aqueles bustos de veados que os caçadores malucos americanos têm nas cabanas. Portas de casas de fadas e miniaturas variadas de mobiliário de casas de fadas. Trolls, cadernetas de cromos dos Trolls, bandoletes com organza a imitar os cabelos dos Trolls. Harry Potter, varinhas, cachecóis, bloquinhos de folhas, canetas e lápis e mais umas cenas de borracha com caras de Harry, do Ron e da Hermione com um buraco e que se enfiam no topo dos lápis. Wednesday, tote bags da Wednesday, sweatshirts da Wednesday, gorros da Wednesday.
Tenho a história do imaginário de 12 anos da minha filha encafuada em caixas de plástico.
E, de repente, a Taylor Swift já não me parece tão mal.
O pior de ver os filhos crescer é ter que os deixar experimentar a dor. A tristeza. O desânimo e a frustração. A raiva e a desilusão.
E não poder estar lá para dar beijinho no dói -dói porque às vezes- quase sempre- o dói -dói é na alma e não está aqui ao alcance dos nossos lábios.
O pior de ver os filhos crescer é às vezes não ser tão claro explicares o funcionamento do Mundo e da vida, porque muitas vezes não há racional nem lógica no que acontece e coisas más acontecem a pessoas boas e coisas boas acontecem a pessoas que nem sempre prestam.A gente anota o primeiro dia em que se sentam, em que lhes nasce o primeiro dente e depois em que lhes cai também, em que dão os primeiros passos, do primeiro dia de creche e depois, todos os anos, de escola. A gente anota a primeira palavra dita e a primeira escrita, o primeiro desenho de figura humana e o inaugurar de tantos estadios.