quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Aniversário

Ontem o empregado de mesa percebeu que havia comemoração. Esteve ali à conversa connosco um bocadinho, confidenciando-nos que gostaria de descobrir o segredo de se manter uma relação. Não lhe soubemos responder. 
A nossa relação não tem segredos. Ou melhor, já os teve, bem ocultos, já deixou de os ter, expostos como uma cicatriz ao sol, e agora vai tendo alguns, os necessários para cada um preservar a sua agenda secreta, a sua individualidade, num plural que escolhemos ser. 
Manter uma relação não é fácil mas também não é tão complexo como, à partida, pode parecer. Talvez nunca o tenhamos racionalizado muito bem porque isto gere-se mais com o coração do que com a razão. Não percebo nada das relações dos outros- muitas vezes nem da minha- mas sei que a música do Jorge Palma tão bem se adequa a nós "enquanto houver ventos e mar, a gente não vai parar, enquanto houver ventos e mar". 
Capacidade de empatia. Sabermo-nos pôr no lugar do outro, calçar os seus sapatos, sentir onde lhe apertam, onde se deformam com o desgaste dos passos. 
Tolerância. Compreender, aceitar muitas vezes sem compreender, preferir muitas vezes ser feliz do que provar que se tem razão, seleccionar criteriosamente as lutas que se quer travar, relevar as insignificâncias do dia-a-dia, nunca esquecer que se gosta daquela pessoa, do que se gosta e do que nos faz continuar a querer gostar. 
Resiliência. Escolher não desistir ao primeiro obstáculo, olhar para cada problema como um desafio, não perder de vista o que se quer, que se quer estar junto, não esquecer do que se gosta, das características que nos fizeram apaixonar por aquela pessoa, alimentar-lhe os risos, contribuir para o outro ser feliz. Querer-lhe bem. 
Não há receitas mágicas, varinhas de condão ou poções milagrosas para se manter uma relação. Nem sempre é bom, nem sempre é aprazível e nunca, mas nunca, é perfeito (oh, se não é!).
Na nossa prevalece a ideia, partilhada, de que queremos fazer o outro feliz e que somos responsáveis por ele enquanto parte de um todo, que somos nós. E vivemos nessa tentativa diária, constante e permanente. Empurrando a vida com o coração. 

(Feliz aniversário, meu amor. Quero-te muito bem.)

7 comentários:

Joana disse...

E o que fazer, para além de sorrir, perante tão bonita declaração de amor?
Felicidades (muitas!) para os dois. :-)

Bruno Alexandre disse...

Amar às vezes faz sofrer, o importante é ser-se tolerante e perceber que nenhum dos 2 é perfeito... E procurando a felicidade conjugal aos poucos, conquista-se o nosso mundo, o nosso sonho, até "seres alma, e sangue e vida em mim"!

Muitas felicidades e muitos anos de felicidade, alegria, amor e compreensão q.b. :)

Carla Brito disse...

Parabéns!
Mais do que pelo aniversário, pelas palavras.
Que assim seja até ao final dos vossos dias (daqui a muuuuuitos anos).
E parabéns pelo aniversário, já agora! :)

cantinho disse...

Muito bom, e esta frase está demais:
" isto gere-se mais com o coração do que com a razão".
E que a resiliência traga mais felicidade para os dois.

Beijinho

Espirros disse...

Já fui seguidora e depois deixei de ser. Achava que as palavras às vezes eram demasiado arrogantes e duras. Depois voltei, já nem sei porquê, porque sim.. E depois percebi que nem toda gente tem a capacidade de dizer o que realmente pensa, sem querer que todos gostem do que dizemos, mas também sem a arrogância de querer ser duro só porque sim "porque fica bem ser diferente de todos e do contra". Não é um equilíbrio fácil, dizer livremente o que pensamos, mas fundamentado, sem a pretensão de se achar que são verdades absolutas.. São apenas as "nossas" verdades. Nunca quis comentar nada no blogue porque na verdade sempre achei que os comentários se dividem entre os que veneram sem discernimento e os que odeiam porque só assim a sua vida tem sentido.. E aí também eu estava a ser arrogante e a generalizar.. O tal equilíbrio que não é fácil. Decidi comentar agora porque se há coisas que mexem comigo são, ler palavras que me soam a perfeição. Adorei este post e realmente é só mais um comentário, entre tantos que lhe fazem. Mas acredito que não faça mal ser mais um a dizer OBRIGADA. Obrigada por partilhar livremente o que pensa, mesmo que nem sempre esteja de acordo, nunca deixo de ler e gostar, obrigando-me sempre a ver o azul, fora do preto e branco.

Pólo Norte disse...

Espirros,

Não sabe o bem que me soube ler o seu comentário. Soube-me a um abraço.
Obrigada eu. Do coração.

Pólo Norte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
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